Em defesa dos intensos (não aos dramáticos)
É muito comum as pessoas confundirem pessoas intensas com pessoas dramáticas, mas essa injustiça eu não vou cometer: o dramático cansa as pessoas, os intensos se cansam. O dramático interpreta que sente muito, o intenso sente e transborda e vaza por todos os poros - é sobre isso que pensei outro dia enquanto tomava banho e rebatia mentalmente alguma situação que não fazia o menor sentido relacionar.
Queria defender os intensos mas não há defesa, eles estão condenados às piores formas de existir que o ser humano poderia ter - aquelas que precisam sentir muito e tudo e sempre para só então respirar e deitar a cabeça em paz no travesseiro. Não é que eles podem não ser assim, não há saída para o que se é, ou você é ou você simplesmente rasteja pela vida como um zumbi.
Não dizer o que sente, esconder o jogo e tentar conter os gritos de alegria que a alma dá com qualquer mínima reciprocidade infantil é para quem consegue fazer drama, não para os intensos. Não há cálculo, não há atalho, só há vontade, energia e aquela falsa sensação de poder que a explosão do intenso promete gerar antes de cair em desgraça com as consequências das suas não-escolhas.
É por isso que o intenso joga limpo, porque ele precisa que o território exista para caber sua explosão, e se depois dela, não houver mais território, nem som algum, só então, eles deixam para lá.
Mas é um deixa pra lá depois de ter dito tudo que queria, de ter dado todas as coordenadas de onde a bomba vai cair. Depois de instalar o caos, só depois disso, quando já não existir nada além de pedaços e poeira ele vai dizer.
Junta os cacos de si mesmo e vai colar sozinho, não há depois, promete que nunca mais vai se envolver em nada assim tão profundamente. Neste momento ele começa a se regenerar, parece que liga um autolimpante emocional e vai saindo do planetinha sem forma cheio de respostas que não precisava.
Vai rir depois porque não vai encontrar nexo no tamanho do investimento feito para com o estrago colhido é que não tem a ver com ninguém mesmo, é uma necessidade básica da existência deles.
Mas quer saber? Deixa para lá.