Sempre levei tudo muito a serio, até minhas brincadeira tem o peso da seriedade que exalo e embora sempre tenha me questionado por isso, vejo que eu não poderia ser diferente pois desprezo quem passa a vida inteira brincando de viver e brincando de acaso. Talvez por isso odiei tanto quem fui antes e quando percebi, já tinha te convidado.
Eu tenho muito compromisso com o que falo e isso não é força de expressão - meu corpo e minhas ações se comprometem com minhas palavras em todos os poros e isso diz como vou me sentir.
Suspeito que minha estrutura funciona assim, mas isso não significa que tudo seja tão fácil de perceber. Nem eu consigo retirar peso do que sou e as contradições não me deixam seguras (ainda bem). Então, como você pode achar que me leu e agora sabe tudo a meu respeito?
Sua presença em meu santuário foi um desrespeito com minha alma. Sempre soube que era indigno de estar em minha presença, mas meu compromisso é sempre com a minha palavra e com mais ninguém.
E você não quis só entrar, você subiu no altar, aproveitou que ele estava vazio e fez parecer que era seu para ocupar.
Vislumbrei força de quem quer, você simulou muito bem, mas quando percebi que suas palavras eram só brincadeira de quem ainda não aprendeu a viver, já estava tudo imaculado com reflexo do seu cigarro por todos os lados.
Sua pretensão sempre me disse o quanto era inapto para estar em santuários, você é pagão e seu Deus é o próprio ego. Mas você subiu como quem sabe rezar, dançou, fez oferendas e desceu, tudo sozinho. Sozinho não, você ascendeu com a minha descrença.
Eu sabia exatamente que você iria cair mas não foi fácil ver sua queda. Eu precisei esperar o efeito anestésico ruir para só então aceitar o que eu já sabia. Eu não acredito na realidade, eu acredito no que eu sinto e por isso foi triste ver o santuário vazio, de novo.
Mas não posso ser leviana, derrubar um deus prepotente, por um momento, me fez sorrir.
Previsível. Afinal, eu não sei brincar, nem perder e só você estava se divertindo.